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27/08/2018

º Um achado enviado... º


Terra da Realidade, abril de 2000.



Para vocês minhas queridas e alegres amigas...


Como todas sabem estou aqui nesse quarto há algum tempo já.

Entrei cheia de esperanças, vim numa urgência, cheia de dores...

A cirurgia correu bem, porém minha fraqueza, persiste. Assim, por aqui devo ficar.

Na falta do que me ocupar, não podendo fazer as coisas que gosto, olho pela janela.

Quando estou deitada, vejo apenas o céu.

Esse, assim como eu, muda de tons, passa do cinza para o brilhante azul. Vem e vão as nuvens, assim como dentro de mim elas chegam, colocando dúvidas, desesperanças, mas ainda bem, também se vão.

.... Pausa

( Retomo hoje, dias após, a escrita. Tive que interromper,não posso ficar muito tempo concentrada.Estou fraca)


Quando me é permitido chegar até a janela, meu único meio de ver a vida lá fora, procuro observar a pressa dos carros que parecem nem um minuto da vida poder perder.

Vejo pessoas aqui entrando.

Muitas cheias de sacolas, com roupas que vão e voltam para as casas.

Vejo as que carregam flores, chegando para visitar algum paciente amigo ou familiar.

Vejo os que saem carregando "trouxinhas" lindas e cheias de luz, os bebezinhos apenas nascidos por aqui.
Me emociono com essa cena!

E , tantas vezes, após ver as flores carregadas, fico à espera que a porta de meu quarto se abra, que sejam para enfeitar meu quarto, já tão esquecido.

Lembro que logo que aqui cheguei, as visitas tiveram inclusive que ser limitadas por ordem médica, tal era a quantidade. Estas foram escasseando, escasseando, hoje são raras.


(Outra pausa, salvei o email para recuperar tão logo possa)



-Sabem o que passa pela minha mente aqui tão desocupada?

_ Penso que somente se a situação é grave, com riscos, as pessoas aparecem. Depois, ficamos no esquecimento...

A vida está assim e as correrias lá fora, não permitem muita solidariedade, ou gestos de carinho. Tudo é pressa, tudo é correria.

Pena!
Mas eu não culpo ninguém. Sei que se não estivesse aqui, talvez seria assim também.

Ano passado, nesse dia, que foi meu aniversário, o quarto ficou lotado.

Eram flores de todas as cores, lindas, perfumadas. Tivemos que colocá-las no corredor, tantas eram.

Hoje, apenas minha família querida aqui está...

Mas, tenho certeza, caso daqui eu não saia, ao saberem da notícia, todas correrão, combinarão encontros para virem ao enterro, aos atos fúnebres e como tantas vezes fizemos, tomarão um cafezinho juntas entre belos e alegres papos , assim que tudo estiver acabado.

Assim, nesse meu aniversário, resolvi visitar cada uma de vocês e em pensamento, estamos juntas.

Desculpem o email coletivo, fiz o que pude...

Deixo meu carinho e agradecimento pelos bons momentos que juntas vivemos, as risadas, as boas caminhadas...Foi muito bom tudo aquilo!



Beijos, Bernadeth

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* Para as amigas de minha filha...

Agora, quem aqui escreve é Pietra, mãe da querida Berna,como era por todos nós chamada.

Encontrei aqui, salvo nos rascunhos dela esse email e achei que ficariam felizes em recebê-lo. Foi pensado para cada uma de vocês e pode deixar uma lição.
Por isso encaminho .

Tudo aconteceu rapidamente e após dois dias de seu aniversário nossa Berna partiu.

Parecia antever a partida. Seus últimos momentos foram olhando o céu daquela cama e me chamou.

Mostrou as nuvens lá no alto e disse que eu nunca a deveria esquecer. Ela iria para lá e que de onde estivesse me sorriria e piscaria um olhinho, como sempre fazia.

Assim partiu olhando o céu e para o céu se foi!

E, como ela previu, algumas de vocês apareceram para a despedida...Algumas apenas!

Fica a lição: Façamos enquanto as pessoas aqui estão. Depois, podemos apenas olhar para os céus e ter saudades.

beijos, Pietra

* Hoje, dia 27 de agosto, a pessoa querida que me inspirou, minha irmã Sandra, completaria 73 anos. Ela, como a do texto, faleceu dois dias após o niver e com apenas 19.
O tempo passa, mas as lembranças ficam ...
Viajei nas saudades, mas com fundo de verdade!

15/08/2018

º A falha mais importante º





A cada 4 anos, surge novamente o debate envolvendo as eleições para a presidência do Brasil.
Inúmeras matérias começam a aparecer em jornais, na televisão, no rádio e etc...
Há manifestações e discussões nas ruas, com diálogos e campanhas.
E também desejos de um país melhor.

No entanto, isso tudo não leva a nada. O problema não envolve somente os políticos. Não é um novo presidente quem vai mudar o país.

O problema é o sistema. Um sistema no qual é obrigatório ter apoio no Congresso, caso contrário não há como fazer nada. Ele é baseado somente em alianças partidárias, que envolvem interesses pessoais e não ideológicos.

Se não houver apoio político, ninguém pode mudar nada no país, pois os deputados e senadores votam "sim" ou "não" conforme o partido daquele que criou o projeto, e não conforme a proposta em si.

Portanto, mudar o sistema é tão importante quanto mudar os nossos representantes, embora ninguém comente acerca disso.

Neno