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29/06/2018

ºOlha, pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não… º



Olha, pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não…

Era dia 24 de agosto, uma quarta-feira. Dia de trabalho. Eu, como jornalista, tinha a missão de mostrar como a vida se desenrolava nas principais periferias da cidade, para a realização de uma grande reportagem. Estava frio e o caminho para o morro não era fácil. Por medo, a minha empresa não disponibilizara o carro oficial para a viagem. Como não tenho um veículo, tive de ir a pé.

A paisagem não era das mais acolhedoras. Uma estrada de barro em zigue-zague, cercada inteiramente de barracos ou qualquer coisa que servisse como lar, levava até um pequeno mercado, cujas paredes tinham mais buracos do que concreto. Pensei em ir até lá entrevistar o caixa, mas o olhar de um sujeito estranho me impediu de continuar naquela direção. Foi nesse momento que percebi como o preconceito não para de nos perseguir.

Segui o meu caminho por outro beco e encontrei uma jovem indo para a escola municipal. Eu a cumprimentei e perguntei se poderia realizar uma breve entrevista. Ela estava abrindo a boca para responder, quando um adolescente passou rapidamente por nós e disse, se dirigindo à guria:

-“Pra variar, não tem aula hoje, Gizele! Greve de novo.”


Com isso, me dei bem. Ela disse que havia tempo de sobra e até me convidou para visitar a sua casa. Prontamente, aceitei o convite. A jovem me conduziu por uma série de vielas até chegar em uma estrutura de somente 1 andar, que deveria ter menos de 15 metros quadrados. Ela falava sobre a sua vida, quando eu escutei uma frase que chamou a atenção:

“Olha, pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não…”


Sem esconder minha curiosidade (e com certa falta de educação, da qual me arrependo) , fui verificar o que estava acontecendo no cômodo ao lado. Um garoto, com talvez 8 anos, tentava consertar uma lâmpada queimada ao lado do pai, que lhe mostrava exatamente o que deveria ser feito.

Essa situação me deixou muito feliz. Ver um garoto, provavelmente sem escolaridade alguma, totalmente interessado em aprender coisas tão práticas com o pai foi algo realmente entusiasmante.

Terminei a entrevista e agradeci a menina. Depois de tudo isso, a reportagem rendeu. O futuro precisa e merece interesse.



* Texto escrito pelo Neno

*Trabalho do colégio, com as seguintes regras:

-Texto em primeira pessoa
-Espaço: social



24 comentários:

  1. Que história bonita! Um belo trabalho! Bjs e bom fim de semana

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    1. Oi, Sérgio! Muito obrigado!
      Abração e boa noite!

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  2. Bom dia. Gostei bastante do texto. Obrigada :))

    Bjos

    Um óptimo Sábado

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  3. Excelente trabalho, gostei bastante deste belo e bem escrito texto.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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    1. Oi, Francisco! Muito obrigado! Que bom que gostou!
      Abração e boa noite!

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  4. Nota 29 Eno|
    Parabéns pela criatividade e esmero ortográfico
    - gosto de ver virgulas bem colocadas.
    Foi uma leitura agradável.
    Beijos
    ~~~

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  5. Parabéns, Neno! Um texto repleto de visão de mundo familiar, social e crítico. Caminho para a cidadania!
    Abraço.

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    1. Oi, Célia! Muito obrigado! Que bom que gostou!
      Bjs e boa noite!

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  6. Muito interessante! :)

    Beijos. Bom fim de semana!

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    1. Oi, Cidália! Que bom que gostou! Fico muito feliz!
      Bjs e boa noite!

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  7. Muito bem elaborado, parabéns ao Neno!!Inteligente e ótimo escritor como a avó!!
    É um dilema...Vivemos com medo o tempo todo.
    Bom sábado, Chica!

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    1. Oi, Dalva! Muito obrigado! Fico muito feliz!
      Bjs e boa noite!

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  8. Um texto brilhante e atual, que retrata
    a realidade de muitos bairros...
    O futuro realmente merece interesse!
    Bjs!

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    1. Oi, Clau! Muito obrigado! Que bom que gostou! :)
      Bjs e boa noite!

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  9. Um texto muito bom, Neno. É isso aí, o futuro merece ser preparado desde menino.
    Abraço

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    1. Oi, Elvira! Muito obrigado! Fico muito feliz!
      Bjs e boa noite!

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  10. Boa tarde, confesso que fiquei curiosa com o final do texto, mas achei excelente.
    Ainda podemos perceber o preconceito que existe ao nosso redor, e porque não afirmar em muitos de nós.E,felizmente, ainda há esperança, pois mesmo na pobreza existem ricas famílias que educam e ensinam a seus filhos como viver bem. Parabéns!

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  11. Parabéns Neno!
    Abordaste um tema crucial nos dias que vivemos!
    A tua escrita é tão fluída que nos prende!

    Beijinhos.

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  12. Estou de queixo caído, com a profundidade do tema, e o interesse, com que este texto me prendeu a atenção, do início ao fim!...
    Um texto incrível, que relata tão bem, muito da realidade actual, em lugares onde a vida... não é nada fácil... e onde, em muitos dias, até o ir para a escola, pode ser complicado e arriscado!...
    Uma mensagem muito positiva, especial e bonita, na conclusão do texto... em especial nos dois últimos parágrafos... que nos transmite muita esperança... porque essa, sim, mora mesmo em todos os lugares, onde a deixam entrar!...
    Parabéns, Neno! Tens imenso jeito para a escrita!
    Beijinhos! Bom fim de semana, para todos aí!
    Ana

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  13. Boa tarde Neno,
    Os meus Parabéns pela fluência da escrita e pelo conteúdo do seu artigo jornalístico!
    Excelente e como Vovó Chica deve estar orgulhosa!
    Beijinhos,
    Ailime

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  14. Achei ótimo o texto. Bem claro, objetivo e com conteúdo de qualidade. Parabéns!
    Abraço e boas férias...

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