Olha, pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não…
Era dia 24 de agosto, uma quarta-feira. Dia de trabalho. Eu, como jornalista, tinha a missão de mostrar como a vida se desenrolava nas principais periferias da cidade, para a realização de uma grande reportagem. Estava frio e o caminho para o morro não era fácil. Por medo, a minha empresa não disponibilizara o carro oficial para a viagem. Como não tenho um veículo, tive de ir a pé.
A paisagem não era das mais acolhedoras. Uma estrada de barro em zigue-zague, cercada inteiramente de barracos ou qualquer coisa que servisse como lar, levava até um pequeno mercado, cujas paredes tinham mais buracos do que concreto. Pensei em ir até lá entrevistar o caixa, mas o olhar de um sujeito estranho me impediu de continuar naquela direção. Foi nesse momento que percebi como o preconceito não para de nos perseguir.
Segui o meu caminho por outro beco e encontrei uma jovem indo para a escola municipal. Eu a cumprimentei e perguntei se poderia realizar uma breve entrevista. Ela estava abrindo a boca para responder, quando um adolescente passou rapidamente por nós e disse, se dirigindo à guria:
-“Pra variar, não tem aula hoje, Gizele! Greve de novo.”
Com isso, me dei bem. Ela disse que havia tempo de sobra e até me convidou para visitar a sua casa. Prontamente, aceitei o convite. A jovem me conduziu por uma série de vielas até chegar em uma estrutura de somente 1 andar, que deveria ter menos de 15 metros quadrados. Ela falava sobre a sua vida, quando eu escutei uma frase que chamou a atenção:
“Olha, pai, eu tentei, mas acho que não deu muito certo não…”
Sem esconder minha curiosidade (e com certa falta de educação, da qual me arrependo) , fui verificar o que estava acontecendo no cômodo ao lado. Um garoto, com talvez 8 anos, tentava consertar uma lâmpada queimada ao lado do pai, que lhe mostrava exatamente o que deveria ser feito.
Essa situação me deixou muito feliz. Ver um garoto, provavelmente sem escolaridade alguma, totalmente interessado em aprender coisas tão práticas com o pai foi algo realmente entusiasmante.
Terminei a entrevista e agradeci a menina. Depois de tudo isso, a reportagem rendeu. O futuro precisa e merece interesse.
* Texto escrito pelo Neno
*Trabalho do colégio, com as seguintes regras:
-Texto em primeira pessoa
-Espaço: social